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terça-feira, 17 de maio de 2011

O drama da atriz Graziela Moretto

Atriz global fala sobre mancha no rosto: "enfrentei preconceitos"

Graziella Moretto mostra sua mancha no rosto especialmente para a campanha da Associação Brasileira de Pessoas com Hemangioma e Linfangiomas .... Foto: Abraphel/Divulgação"Debaixo da maquiagem, estou eu mesma, e eu não gostaria de ser de outra maneira". A fala é de uma atriz de teatro, cinema e TV, conhecida por personagens de humor crítico e inteligente, que transita com versatilidade da comédia para o drama, dos palcos para os livros (ela também é escritora). Formada pela Escola de Arte Dramática da USP, Graziella Moretto integrou o elenco dos filmes Domésticas (2001) e Cidade de Deus (2002), se destacou no seriado global Os Normais e produziu vídeos de humor que se tornaram hits no YouTube. Discretíssima e nada afeita aos holofotes longe de sua vida profissional, há quase quatro anos Graziella revelou em uma foto para a coluna da jornalista Monica Bergamo ter uma mancha de nascença no rosto ou um hemangioma periférico plano que cobre 40% do lado esquerdo de seu rosto. O objetivo era ajudar outras pessoas na mesma condição.
A foto teve grande repercussão à época, porém, Graziella se recusou a explorar o assunto. "Hoje em dia a minha profissão não está apenas diretamente ligada à imagem, mas à produção de uma imagem que poucas vezes corresponde à realidade", diz ela, que admite já ter sofrido preconceito por causa de sua mancha.
Sem a maquiagem utilizada para trabalhar, a atriz prefere aliar sua imagem à causa da Associação Brasileira de Pessoas com Hemangiomas e Linfangiomas (Abraphel), que este mês iniciou uma nova campanha nacional informativa e de mapeamento. Com sede em São Paulo, a entidade promove desde 2004 ações com pacientes, familiares e profissionais de saúde para a troca de experiências e informações sobre tratamentos para hemangiomas (lesões vasculares) e linfangiomas (malformações do sistema linfático). Pouco conhecidas pelo termo médico, podem ser detectadas no nascimento e, em alguns casos, desaparecer nos primeiros anos de vida da criança.
O hemangioma de Graziella permaneceu na infância e, na adolescência, não impediu o início de sua carreira, aos 14 anos. A maquiagem virou sua grande aliada. Em entrevista exclusiva ao Terra, Graziella fala abertamente sobre o assunto e espera levar sua experiência e ensinar seus truques de maquiagem a outras pessoas com hemangioma. "É uma condição que, muitas vezes, tem consequências apenas estéticas", afirma. Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Em algum momento você achou que o hemangioma poderia atrapalhar sua carreira de atriz?
Comecei no teatro amador aos 14 anos, atuei em diversas peças sem usar maquiagem e não pensava que seria um obstáculo. Minha mancha não impedia que o público acompanhasse a trajetória que meu personagem percorria, e isso era o mais importante para mim. Quando entrei para a Escola de Arte Dramática e comecei a atuar profissionalmente, vislumbrei pela primeira vez o abismo que separa o desejo de ser ator ao de se ter uma carreira e ter que sobreviver dela. E que um dos caminhos para a sobrevivência era o trabalho na TV, no meu caso a publicidade, que foi a porta de entrada para o mundo profissional. Enfrentei alguns preconceitos, mas eles contribuíram para aumentar minha determinação em encontrar uma solução para essa dificuldade estética. Não à toa, tenho uma enorme gratidão a maquiagem. Foi através dela que eu me inseri no mercado, apesar da minha condição.
Como você lidou com o hemangioma na infância e adolescência?
Minha relação com meu hemangioma não foi traumática e credito grande parte disso ao apoio de minha família. Apesar da desinformação e falta de técnicas de tratamento à época, a abordagem dos meus pais sempre foi a de me ajudar a compreender e admitir a existência de uma mancha em meu rosto, sem que isso me fizesse sentir pior. Cresci assumindo que é algo que faz parte de mim, e que, por estar no meu rosto, dificilmente não chamaria a atenção das pessoas. Mas que isso não me fazia inferior em nenhum sentido.
Tem ou já teve alguma dificuldade por ter uma mancha no rosto?
Mesmo com todo o apoio e aceitação, vivi momentos de baixa auto estima por ter um hemangioma em diferentes fases da minha vida. Em determinadas situações sofri preconceito real, porém, a sensação de ser observada por ser diferente já é suficientemente constrangedora. A última coisa que você deseja muitas vezes é ser notado, principalmente na adolescência. Então, perceber que as pessoas olhavam e tentavam disfarçar, ou um silêncio súbito quando se entra num lugar, era motivo para eu ter vontade de enfiar a cabeça num buraco feito um avestruz. Aprendi a lidar com isso através dos anos, mas ainda sei exatamente quando alguém está olhando para a mancha no meu rosto, mesmo que hoje não mais incomode. Quando você está construindo sua autoimagem na infância e juventude, e olha para todos os modelos e referências disponíveis e não encontra ninguém como você, é algo que dá muita solidão.
A profissão de atriz é muito ligada à imagem. Acredita que a sua experiência pode ajudar as pessoas que têm hemangioma a lidar melhor com a questão?
Eu diria que hoje em dia a profissão de atriz/ator está não apenas diretamente ligada à imagem, mas à produção de uma imagem que poucas vezes corresponde à realidade. Nesse sentido, me relaciono com a maquiagem como algo que viabiliza essa "fantasia" de eu ser, por algum tempo, uma pessoa que não tem uma mancha no rosto. Quase como um personagem. Mas isso só funciona porque quando eu chego em casa e passo o demaquilante, tenho orgulho de ser quem eu sou. Debaixo da maquiagem estou eu mesma, e eu não gostaria de ser de outra maneira. Sou feliz com meu hemangioma, tanto quanto sou por ter a alternativa de maquiá-lo. Mas ele é parte de mim e jamais deixará de ser. Por isso, considero o trabalho da Abraphel tão importante. O hemangioma é uma condição que, muitas vezes, tem consequências apenas estéticas. E em tempos em que a imagem é valorizada acima de qualquer outro valor - não importando se a imagem é enganosa e produzida apenas para nos vender produtos -, o mais importante é que a gente tenha o direito de ser feliz do jeito que é

 


Um comentário:

  1. Olá, tudo bem? Podes citar a fonte da materia, por favor. Esse e' um cuidado que um profissional de comunicação deve ter!,
    E devo dizer que nao há nenhum drama nesse relato.
    Att.

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